(by Miss Blue)
Sabe qual é a melhor
maneira de curar a ressaca de ano novo, Mr Budget?? Sabe qual é o remédio
perfeito para aquela vontade compulsiva de comer algo profundamente
reconfortante e satisfatório, que não enjoe, que acompanhe bem uma imperial ou
uma coca-cola, que permita um sentimento inocentemente culpado de indulgência,
que nos ponha logo a quebrar aquela eterna resolução de ser mais saudáveis, de
comer melhor, de renegar os maus hábitos? No fundo, Mr Budget, sabe qual é a
maneira mais rápida de voltar aos maus caminhos do ano velho sem pensar muito
no assunto?
Primeiro, tem de beber
bastante na noite anterior, e de preferência fazer algumas misturas entre
géneros (por exemplo, beber 2 uísques e 3 vodkas depois do champanhe costuma
resultar de forma assaz eficaz). Depois tem de beber água antes de dormir para
não ficar completamente incapacitado na manhã posterior. Ao acordar, a sua
língua deve ter a textura de cortiça e a ausência de humidade que caracteriza
as horas quentes de um qualquer deserto comum. Tome banho, lave os dentes,
vista-se e apanhe um táxi – ainda não está em condições para conduzir e tentar
ir a pé é arriscado: no estado em que está, ainda o chamam para ilustrar os
malefícios da bebida no antigo cinema que nunca viu tantos filmes como desde
que se tornou igreja e que fica ao lado do sítio que lhe sugiro: o Império.
Ao chegar, ignore a
geriatria de alguns empregados e a curiosidade dos restantes por verem um
cliente sozinho com menos de 70 anos: sente-se num banco, encoste-se bem e
recuse a lista: a única coisa que quer é um magnífico bife Império da vazia,
médio-mal passado, com ovo. O pão chega quente à mesa e as batatas aparecem por
magia numa travessa complementar. (Já pediu a coca-cola, espero.) Nos minutos
seguintes, a única coisa que tem de fazer é afogar religiosamente e de forma
alternada, batatas e pão no molho inacreditável que acompanha este bife. Nos
meus sonhos mais loucos, acredito que eles usam caramelo. O tamanho é perfeito,
a consistência exacta, as calorias não contam aqui e a sensação que a qualquer
momento pode entrar um carro do INEM para socorrer os outros comensais é
meramente passageira.
Acabe com um café e
vá-se embora, preparado para descer a Almirante Reis devagarinho, com a certeza
de que está a ser muito marginal e a começar o ano de forma muito mais
alternativa que numa qualquer pizzaria da moda a almoçar às 4 da tarde.