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Petiscaria Ideal

(by Miss Blue)

Não há nada de ideal nesta Petiscaria, Mr Budget. Aliás, o ideal seria que agarrassem no conceito – que é óptimo, excelente, despretensioso e patriótico  - e lhe fizessem duas alterações absolutamente essenciais – os empregados e a localização.
Pessoalmente, não gosto de ser atendida por pessoas com ar junkie e problemas dentários. Também não sou grande apreciadora de interrupções bruscas e chamadas de atenção a despropósito. Quando um empregado consegue gerar silêncio numa mesa de 8 mulheres é porque é muito bonito ou porque foi muito inconveniente. Ora, se um junkie nunca é bonito, podemos assumir livremente que foi inconveniente; que interrompeu, que se aproximou e ficou a pairar em silêncio e observação, enfim, um sem-número de falhas plenamente cometidas pelo pobre  auto-intitulado “João”. Precisava de passar umas semanas com um mordomo britânico para ter maneiras.
Quanto à localização, sabendo que Santos é a capital sub-18, já para não arriscar um sub-16, não é boa ideia abrir um restaurante que se situa claramente numa faixa maiores de 30. Porque é impossível sair para beber um copo, porque é impossível estacionar e porque ninguém merece ver crianças bêbedas à 1 da manhã, quando se sai do espaço.
Tudo o resto é bom. Os petiscos, tibornas e outros mimos são bem apurados, embora alguns pequem pelo óbvio e conjuguem sabores que se anulam – a tiborna de queijo da serra e presunto é uma comum sandes de lavrador sem parte de cima do pão; já os brilhantes bolinhos de sapateira com uma salada fresca de abacate foram muito bem-vindos. O atum braseado com batata-doce é apresentado no ponto; o polvo em tomatada podia ser feito em qualquer lugar. A tiborna de ovos mexidos com espargos é básica, a beringela com requeijão e cogumelos é deliciosa. O pijama de sobremesas era absolutamente olvidável, a cometer o erro de apresentar duas variáveis com chocolate – uma das quais não era mais que um comum gelado – algo de maçã indistinguível e uma pasta branca com semelhanças a cheesecake.
Altos e baixos gastronómicos num sítio cheio de graça, de mesas compridas, guardanapos desencontrados, que não aceita reservas e só serve produtos nacionais. Pode-se beber groselha e capilé e também se pode pedir gasosa. Bom para nostálgicos e para jantares de converseta com pouco ênfase no prato.  


(by Mr. Budget)

Petiscaria Ideal – Entrada

Atenção Miss Blue, esta foi uma noite atípica e em 3 actos. A primeira paragem foi num restaurante ali a dois passos do Calvário, cujo logótipo (Q de Quotidiano) lembra uma seguradora.
O espaço estava vazio, talvez por ainda não serem sete da tarde. Tudo começou com uma garrafa de Dona Ermelinda branco em cima de uma mesa de madeira, daquelas grandes e compridas que se costumam ver nos cafés cool das cidades hype (ou será ao contrário?). Havia livros para ler e vender. Todos da desconhecida Chiado Editora com umas capas horríveis que condiziam com os quadros pendurados no Quotidiano. Mas tirando estas excepções o ambiente de café-restaurante-mercearia prometia.
Chegada a garrafa, nós, 3 convivas, examinámos a montra de pastelaria e as prateleiras gourmet em busca de algo que soubesse que nem ginjas com as uvas Dona Ermelinda. Perguntámos se tinham enchidos. Responderam que “nim” e depois que sim. Perguntei quais eram os enchidos e responderam que eram “enchidos”. Ok. Chega uma tábua de enchidos e, Miss Blue, atente no “S” que garante o plural, porque quando a tábua chegou trazia um fino chouriço na espessura e bruto no seu sabor a frigorífico; e uma morcela, um pouco menos frígida, mas longe de ser gourmet. E era só, ficámos algo incrédulos, mas apesar dos pesares a fome comeu tudo. Comentei com o empregado que estávamos à espera de mais variedade, quem sabe um lomo embuchado, um salpicão, um bom presunto... Pois.
Entretanto um dos estômagos murmurou meio a medo: Apetecia-me mais qualquer coisa... Tem ovos mexidos? O empregado aproxima-se a deslizar lentamente e confessa: sabem, na cozinha estão a preparar dois jantares de grupo e dava-me imenso jeito que não pedissem mais nada. Eu agradecia mesmo. Momento incrédulo Nº 2. Passado um pouco, talvez por sentir o quão surreal tinha sido o seu pedido pós-pedido ele lá trouxe os ovos com pedaços de gordura e alguma farinheira. A Dona Ermelinda finou no meu copo e surgiram uns estranhos cristais. Açúcar? Vidros? Nunca tinha visto depósito assim. Refilámos e o empregado muito perscrutador meteu o dedo dentro do copo, provou e comprovou a estranheza. Momento incrédulo Nº 3. Veio mais uma Ermelinda para empurrar os cristais, acabar os ovos e irmos dali para fora. Chegou a conta e nem sombra de uma mui merecida “atençãozinha”, €5.50 pela tábua de enchidos, €5.00 pelos ovos e €19.00 pelas duas Ermelindas.
Chamámos alguém à paisana que aparentava ser gerente e relatámos o sucedido. Muito simpático, o senhor levou a conta, pediu imensa desculpa, explicou-nos que estavam dois electricistas na cozinha que não estavam a ajudar e ainda nos contou que antes da restauração tinha lançado várias revistas, auto-motor e tal. Quando a conta voltou, a tábua de enchidos custava menos 55 cêntimos e os ovos menos 50 cêntimos. Momento incrédulo Nº 4, embrulhado em muita simpatia, o que só piorou as coisas. Pagámos e saímos com a falsa promessa de voltar.
Devido ao espírito petisqueiro pensámos mudar para um restaurante de petiscos onde mais dois amigos se iam juntar. A Taberna Ideal veio à baila e acabámos no Petiscaria Ideal que prolonga o sucesso da casa-mãe com pratos ligeiramente diferentes e um pormenor muito amigo de quem gosta de ser espontâneo chamado “sem reservas”.

Petiscaria Ideal – Prato Principal

Chegámos à petiscaria e ficámos 3 a ocupar uma mesa de 8, até que chegaram outros 3 comensais estranhos ao grupo que ficaram na ponta da nossa mesa. Já os nossos 2 retardatários ficariam na faixa central. Motivados pela desilusão anterior não perdemos tempo e pedimos Bolinhos de Sapateira, Massa fresca com Vieiras e uma das muitas tibornas à escolha. Apontámos para uma das várias caixas de vinho encostadas à parede que dizia Quinta das Marias e perguntámos ao empregado de que região era. O pobre não conseguiu responder à nossa vergonhosa pergunta com rasteira e fugiu, mas outro empregado, penso que o tal “João sem dentes”, lá nos trouxe o vinho, Dão, Touriga Nacional, que se bebeu muito bem, entrecortado com uns Caipironhos (Caipirinha em tudo, mas com Medronho). Entretanto o primeiro empregado trouxe os pedidos, mas esqueceu-se dos Bolinhos, uma e outra vez, trazendo-os finalmente no fim, apenas na conta. Enquanto comíamos era inevitável comparar os nossos pratos com aqueles que chegavam do outro lado do “court” e a tentação de tirar comida daqueles pratos semi-abandonados foi difícil de combater. Ainda pedimos um mini-bitoque de reforço, o que criou um novo desafio: dividir um parco pedaço de carne por 5 pessoas. Soube a pouco mas soube saboroso.
Comer na Rua da Esperança no espaço de alguém chamado Susana Felicidade augura tudo de bom, mesmo descontando estarmos numa artéria principal da tal “capital sub-18”, mas a verdade é esta: quando a fome é de anteontem petiscos não fazem milagres. Snobeiras de dentes e “crowds” à parte, matar a gula aqui, custa.

Petiscaria Ideal – A Sobremesa

Já na rua sentia-se entre nós aquele desejo de “não sei quê mais” próprio dos abades. A solução imediata foi descer até à Av. D. Carlos I e entrar no Frade dos Mares, restaurante de fumadores e afins. Confesso que apenas comi a entrada, um aconchegante folhados de queijo de cabra com frutos silvestres, que degustei já com as papilas da sobremesa e acompanhado de uns mojitos. Ainda provei o carpaccio de novilho, muito saboroso, e um risoto no ponto certo em que o queijo se derrete e envolve o arbóreo. Finalmente Miss Blue, três restaurantes depois, o nosso jantar revelou-se, como é que hei-de dizer... isso, ideal.

Quando parecia já não haver espaço nem para uma espinha, fomos para o Maxime consumir o novo álbum duplo dos Corações de Atum.