Hamburgueria da Parada




Quer ficar mesmo contente, Mr Budget? Mas mesmo feliz, ao ponto de saltar e ouvir as moedinhas a tilintar no bolso do seu casaco puído? Quer armar-se em personagem dickensiana e exultar com a oferta de uma laranja no natal? Quer que lhe fale de uma esplanada, bem localizada e simpática, onde pode comer excelentes hamburguers (aham), esse pitéu que os pobres tanto gostam, logo a seguir aos croquetes? Pois bem, se quiser, por uma boa meia hora, saber como tirar o hambúrguer do centro comercial, vá à hamburgueria da parada. Aqui come óptimos pedaços de carne indistinta picada, mas acima de tudo, excelentes batatas fritas (aham aham), à sombra das árvores acompanhado por famílias que conseguem produzir crianças louras de série. Não sei se é do tempero do queijo da ilha, da mostarda de Dijon ou mesmo dos requeijão e pesto, mas quando se senta neste quiosque (aham aham aham) a saborear fast food de forma mais lenta, os seus olhos, por breves momentos e com a luz certa, até ficam azuis. Mas olhe que só ganha o respeito das outras mesas se tiver um apelido composto. E só vale ir lá uma vez por semana.





Onde sentar: nas mesas da esplanada ou nos bancos do Jardim da Parada;
O que pedir: hamburguer da Ilha;
Como se comportar: trate toda a gente por você;
O que levar: a time out ou o público;
Com quem ir: com colegas de trabalho, se mastigarem de boca fechada;
Quanto pagar: €7,45. O valor do menu sem café, mas com uma bela limonada. Claro que não pode pedir imperial.

Casa Cid - 12 passos para chegar ao umami

(by Mr. Budget)

12. São 6h30 da manhã de domingo e estou na Casa Cid. Como vim aqui parar, Miss Blue, não é piquenique, nem propriamente pequeno-almoço. Estou na companhia de quatro mulheres, duas conhecidas e duas desconhecidas, a iniciar-me num paladar que soube doze horas antes que existia. Chama-se umami, é o quinto gosto. Cinco anos depois do professor Kikunae Ikeda ter feito a descoberta do umami (1908) esta casa de pasto abria as portas nas traseiras do Mercado da Ribeira. A esta hora está cheia de bêbados, com diferentes níveis de alcoolemia e de capacidade de serem inoportunos. A fome pós-noitada apertou e o hambúrguer do Cid falou mais alto, infelizmente falou queimado por fora e cru por dentro. E assim a expectativa morreu solteira.

11. Às 6h02 o Jamaica expele-nos para a madrugada e o conselho das desconhecidas acabadas de conhecer é atacar o hambúrguer de uma certa tasca, com tudo aquilo a que tem direito: salada, mostarda, ketchup, maionese e picante mortífero. Tudo muito high cholesterol e low budget. Um hambúrguer e uma bifana pagaram-se com uma nota de cinco e ainda houve troco. Pelo que me disseram, as moelas, a feijoada à transmontana, os torresmos e os rissóis de leitão acrescentam fama à casa. Noutro madrugada tiraremos as teimas. A Casa Cid abre todos os dias às quatro da manhã e fecha às 19h00, excepto ao domingo que fecha ao meio-dia.

10. Entre as quatro e tal e as cinco e picos o Jamaica está fértil em encontrões e alguns passos de dança ao som de música que há pelo menos quinze anos deixou de ser novidade. Metallica, Peal Jam, Fat Boy Slim, Nirvana e Red Hot Chilli Peppers estavam no menu, acompanhados por gin de marca indiferenciada. Três raparigas começam a conversar por cima da nostalgia musical, duas do barlavento algarvio e uma brasileira. Quanto à conversa, diga-se que serviu de aperitivo para o umami.

9. Por volta das 04h14 entramos no Jamaica passando à frente da multidão que se acotovela à porta, a nossa senha secreta foi alguma candura e um xixi muito iminente. Resolvido o chamamento da natureza, ficamos para dançar, sem um pingo de vergonha.

8. Os ponteiros rondam as 2h00 da manhã e estamos no Lounge. A música está bastante funky e é difícil não estar a dançar. Está um ambiente de Verão em pleno Inverno, regado ora a água das pedras solitária ora a gin tónico Tanquerey. Quando a música acaba e começam os planos para o futuro mais que imediato, o grupo reduz-se a apenas duas respeitáveis bebedoras de gin e eu.

7. O nosso grupo chega à Mercearia Tosca por volta das 23h00, na melhor parte da Rua Nova do Carvalho. Atacamos o vinho tinto a copo, o que talvez não tenha sido inteligente, depois dos oito vinhos diferentes que bebemos ao jantar. Entre os chuviscos na rua e o período pós-fecho, lá dentro com o Miguel (dono da Tosca e Rei do Cais do Sodré), regressámos ao vinho branco da talha, desviado do restaurante onde recebemos ensinamentos vínicos.

6. Às 22h40 apanho boleia de Alcântara para o Cais do Sodré num BMW mais comprido que uma auto-caravana tamanho familiar.

5. O nosso enólogo de serviço fez um vinho licoroso tinto da Granja-Amareleja, Alentejo (2011) que, se tivesse sido feito no Douro, seria classificado enquanto vintage de gabarito. Bebemo-lo a acompanhar cubos de queijo azul, um Cabrales, que se esfarela na boca à espera de ser entrecortado pelo doce do vinho. São 22h13 e esta dicotomia muito amargo/muito doce é um dos momentos altos do jantar. O leite creme que chegou a seguir foi praticamente ignorado.

4. Ao bater das 21h17 são servidas bochechas de porco assadas no forno com batatinhas e grelos. As bochechas vão diminuindo de tamanho deste a ponta da mesa até nós, mas o sabor está bom e o dia não é para farta-brutos. Neste momento é servido o vinho branco da talha feito pelo produtor José Piteira e pelo nosso Professor. Este vinho, feito na Amareleja segundo a tradição romana, é filtrado das talhas gigantes por um pequeno tubo onde é inserida junca, uma planta aquática cujo caule de secção triangular incha e filtra o néctar de Baco. Cá fora, o resultado é ecológico, cristalino, diferente de qualquer vinho branco que já tenha provado e, claro, sem químicos ou sulfitos. A grande provocação do jantar aconteceu a seguir, nos slides projectados pelo Professor, enquanto nos dizia que a companhia ideal para o vinho da talha seriam as Migas à Piteira, feitas pelo próprio na sua taberna da Amareleja. O aspecto era o de uma tortilha à espanhola com dois andares. Antes do sadismo vieram os filetes. Filetes é aquele tipo de prato que nunca peço num restaurante, 90% das vezes em que me esqueço desta regra, o polme sabe a detergente e o interior não tem sabor. No caso do singular filete de cherne que serviram a cada um, o polme estava crocante q.b. e o peixe estava macio e no ponto. Já o arroz de feijão que acompanhou, estava húmido mas sem grande harmonia.

3. São 20h12 e as entradas estão a ser servidas: carapaus de escabeche, pasteis de bacalhau, morcela e farinheira (pouco) assadas. Os carapaus cumpriram o seu propósito, ou seja, permitir que os alunos verificassem como um prato com muita acidez é bem acompanhado por um vinho com ainda mais acidez. O maestro da harmonia foi um Riesling da Beira Interior chamado Casas Altas. Ao mesmo tempo foi também servido um espumante Bruto de Baga, das Caves São Domingos. A versão budget seria o malogrado Casal Garcia, aprovado pelo professor para a combinação em questão. Curiosidade: o Riesling é apelidado de “crocante” devido ao gás que apresenta, no limite de parecer um vinho espumante. Ao longo do jantar os vinhos servidos mostraram que as velhas regras para combinar vinho e comida são quase sempre pura feitiçaria sem base científica, palavra de Virgílio Loureiro. Ficou também claro que a grande maioria dos vinhos “da mooooooda” são feitos para encher o nariz da mesma forma que muitas peças de roupa são feitas para encher o olho. Depois de beber e depois de vestir, apercebemo-nos que afinal o produto não cai assim tão bem. Bela analogia ao gosto feminino, não foi?

2. Por volta das 19h00 estamos em plena teoria, altura em que o professor nos fala dos cincos gostos principais dos humanos, o doce, o amargo, o ácido, o salgado e o umami. A melhor expressão do umami – também descrito como a capacidade de ser delicioso - é um hamburguer no pão com tudo a que tem direito. Isto porque o ácido do glutamato é um poderoso neurotransmissor presente nas proteínas da carne, no tomate e nos cogumelos que torna a comida mais irresistível. Seja no leite materno, no molho de soja ou na alga kombu, o glutamato é a essência do prazer de comer, do umami. E sim, as grandes cadeias de comida fast-food acrescentam glutamato enquanto aditivo alimentar.

1. Olá, são 18h30 e estou debaixo da ponte. No andar de cima do restaurante O Mercado está montada uma mesa em U para trinta pessoas que irão participar num jantar vínico com o seguinte título “A Harmonia do Vinho com a Comida”. O mestre de cerimónias é Virgílio Loureiro, homem de longa carreira na enologia, no ensino e na história do vinho. A noite promete, mas quem diria que daqui a 12 horas só me vai apetecer um daqueles hambúrgueres gordurosos, acabados de descongelar, da roulotte do Lux? Conselho harmonioso para não grávidas: quanto mais beberem, melhor a má comida sabe. Isto é o fim.

O Último Porto


(by Miss Blue)

Mr. Budget, há sítios que, à partida, têm tudo para não ter nada a ver connosco. Normalmente, esses são os sítios aos quais não vamos. Tomemos o exemplo do Último Porto. Fica no meio do espaço do porto de Lisboa, entre contentores e acessos de cruzeiros. É preciso atravessar uma ponte para lá chegar e o espaço não é particularmente convidativo: a esplanada fica em cima de alcatrão e o espaço interior tem o pé-direito altíssimo, em mármore, numa sala tão fria como a luz de inverno que reflecte.


 Após este impacto inicial, observamos as mesas e percebemos que mais de 70% dos comensais são homens brancos, na faixa 40-60, com particular preferência por botões de blazer dourados, gravatas azul-bebé, camisas com colarinhos brancos e, muitas vezes, carros inversamente proporcionais à sua altura. E a qualquer hora da refeição, pode ter a certeza que vai poder cheirar um charuto, uma cigarrilha, ou mesmo um gitanes.


O serviço demora. Mas demora mesmo. É quase certo que a sua dose só chega 20 a 30 minutos depois de a ter pedido. Por isso, não há ninguém que vá lá almoçar num ápice, ou que só queira o prato do dia. E é por essa demora, precisamente, que nós lá vamos Mr. Budget. É por essa razão que entramos numa área com a qual não nos sentimos minimamente identificados; é a lentidão garantida do serviço que nos diz: podes estar fora de pé, mas vais sair daqui a nadar de braçada larga.

Porque o Último Porto, Mr Budget, é o sítio onde vai comer peixe tão fresco como se estivesse nos restaurantes ao lado da doca de Peniche. Onde fica sentado na esplanada entre contentores com a mesma confiança que sentiria se estivesse no grelhador mais veterano de Setúbal. Porque é tudo tão bom, tão bem grelhado, tão feito na hora e tão, mas tão bem servido, que só pode ser fresco e acabado de fazer da forma mais tradicional possível.

Os chocos e as postas de garoupa grelhados são apanágio da casa, mas se estiver num dia mais humilde, quer de bolso quer de apetite, uma dose de carapaus dourados, com leve aroma mariscador, restauram a sua fé na nossa economia e quase o convencem a comprar uma traineira e fazer-se ao mar, para que haja sempre um Último Porto seguro onde atracar.

Onde sentar: nas mesas da esplanada a aproveitar o sol de inverno;
O que pedir: peixe grelhado;
Como se comportar: como se andasse de fato todos os dias;
O que levar: o financial times, a economist ou o boletim das pescas;
Com quem ir: com amigos sem pressa, com os pais ou com estrangeiros que acham que peixe é carne branca com molho por cima.
Quanto pagar: o que lhe pedirem, que é merecido. E nada de ser sovina com a gorjeta. 20%, no mínimo.

Rota das Sedas - sentimentos misturados

(by Mr. Budget)

O restaurante é recente, inaugurado no Verão de 2011. O edifício onde está instalado é antigo, e o Rota das Sedas tira proveito dessa antiguidade. Há conceito e muita atenção a todos os pormenores, agora resta saber se serão pormenores a mais, Miss Blue.

Logo a abrir pedimos duas imperiais e a resposta foi: oooh, a máquina de imperial está com um problema. Tudo bem, venham duas Heinekens. Os restantes comensais pediram um Hendricks e três martinis. Se lhe disser que esperámos 15 minutos para que estas bebidas chegassem, não estarei a exagerar para além de um minuto ou dois. Foi aí que começámos a conjecturar sobre a possível confusão do barman entre pepinos e courgettes. Segundo alguns presentes o pepino curva para a esquerda. Mas avante. Primeiro sintoma de conceito a mais: os empregados tinham um uniforme a puxar pelo exotismo e pareciam cossacos à espera de uma oportunidade para começarem a andar à roda. Na verdade foram prestáveis a arrumar a mesa para quem chegou de improviso até perfazermos 9, com um à cabeceira, e também mudaram sem problemas a localização de um cogumelo hotspot que estava a queimar a careca de um amigo.

Com tantas entradas à escolha, eu e esse amigo, fomos os únicos a não resistir. E lá veio ela. Uma empada de rabo de boi. Algumas pessoas na mesa torceram o nariz e tive de lhes explicar que se trata de uma carne muito saborosa agarrada à cauda do boi e não um esfíncter para mascar. Antes de dizer “blergh” fique a saber que existem cerca de 50 esfíncteres no corpo humano. A íris por exemplo, que controla a entrada da luz nos seus olhos, é um esfíncter. A empada era mais pequena que muitas das que se encontram em pastelarias, mas o sabor fruto do lento guisado estava tão bom como a textura que se deixava desfiar. Como a seda. A acompanhar vieram folhas de chicória e uns cubos roxos (no seu meio Blue diriam grenás) que pareciam beterraba, mas na realidade eram pedaços de pêra bêbada que abriram o apetite para mais.
















Não sei se por causa do velho jingle do anúncio Brasa -“cevada, chicória e centeio é a sua composição...” - mas a conversa a partir daí foi envolta num polme de nostalgia sobre cama de um grupo de amigos que se conheceu em Massamá. Como me senti sem assunto no meio de histórias que envolviam antigos namoros, antigos swings, amigos desaparecidos e a idade de rebentos vários, virei-me para outro meandro, precisamente o vinho que alguém tinha pedido. O óptimo Douro de Vale Meão sossegou-me em conjunto com um queijo do couvert que finalmente tinha aparecido. Penso que seria de Niza. Entretanto o restaurante foi enchendo com senhoras e senhores com cabelos nos olhos e gestos ligeiramente afectados, espécimes que costumam ser avistados na vila de Cascais. Foi um contraponto curioso para a conversa de Massamá. E eis que surge outro sintoma de conceito a mais: na casa de banho, mesmo por cima da sanita, focos de luz de várias cores intermitiam-se onde não eram chamados. Seria para passar a ideia de ecletismo? O resultado era uma discoteca privada sem sentido. Qualquer que fosse a ideia, é parva.

O espaço onde jantámos era o melhor sem dúvida, um terraço decorado em tons de brancos e verdes, por cima de um jardim que deve ser muito convidativo no Verão. Viradas para a Rua da Escola Politécnica estão 3 outras salas que ainda me lembro de terem desenhos de personagens Disney nas janelas. Isto porque entre 1913 e 2003 funcionou aqui uma escola primária. O edifício no seu todo, com uma fachada de cerca de 110 metros, era a Real Fábrica das Sedas que funcionou entre meados do século XVIII e do século XIX. O projecto é daquele arquitecto que dá vontade de ouvir tango, Carlos Mardel, também autor das vizinhas Mãe d’Água e do Chafariz do Largo do Rato. Será isto importante? Para mim sim, Miss Blue, eu sou um rapaz nado e criado no Largo do Rato. E eis que chegou o meu prato, um Tamboril confit em aroma de noz com risoto de espargos, compota de tomate e poejos. Sinceramente não senti o tomate nem o poejo, e o risoto estava empapado em demasia, mas no geral gostei, especialmente depois de lhe ter despejado meio moinho de pimenta por cima.
















Fiquei curioso com o polvo em 3 texturas: sonho, grelhado e carpacio com migas de grelos e feijão. Experimentei a raia em noisete, puré de batata e legumes salteados em azeite de ervas. O sabor a grelhado estava muito bom. O hambúrguer de picanha trazia uma gema a baixa temperatura que parecia mesmo uma physalis e também me soube bem, apesar de custar quase 19 euros. Se formos analisar os preços, um a um, caímos em desgraça e provavelmente nunca iremos voltar. A não ser ao almoço. De terça a sexta há um Menu Gaspar, em homenagem a esse grande retentor de impostos que inclui entrada, prato principal e sobremesa por €13. No final a conta deu €40 euros a cada um, sendo que três Meandros resultaram em €81 e quatro gins custaram €48, o que nos relembra que é no álcool que está o ganho. Todas as entradas tinham o valor de €8 e uma das comensais jantou nesta categoria umas Amêijoas à Bulhão Pato. Estará aqui talvez a única opção low cost ao jantar. Existe um Menu Degustação Rota do Mundo que custa €84 para duas pessoas que não pareceria exagerado se incluísse vinho. Não houve sobremesas, mas a sericaia fica bem na lista e a sopa de frutos vermelhos preenche os requisitos de sobremesa da moda. Pormenores aleatórios que lhe podem interessar: o café trazia um mini-brigadeiro a acompanhar (que quase ninguém comeu) e os guardanapos têm monograma.

Só para amuse esprit, resta-me dizer que a razão de uma certa população no Rota das Sedas se deverá à dona, decoradora do espaço e também responsável pelas sobremesas. Chama-se Teresa Arriaga e é uma profissional das decorações públicas que tem o restaurante do Hotel Altis Belém (de onde trouxe o chef António Amorim) e um casamento com Santana Lopes no currículo.

Enfim, Miss Blue, à magna carta ao jantar, em versão buffet ao almoço e com brunch até às cinco da tarde ao Domingo, o Rota das Sedas, é um restaurante pouco budget que deixa mixed feelings, mas a explorar, de preferência com menos pormenores e (nunca pensei escrever isto) mais Massamá.


















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Nota: Num grupo de 9 adultos cuja vida está prestes a começar (aos 40) que incluía profissionais da ilustração, edição, escrita, televisão e ainda uma maestrina de coros, a quantidade de conversas de variação anal, entre pepinos, sanitas de discoteca e o espectáculo Lugar às Novas no bar Finalmente, foi tão inesperada como divertida. E aqui lembro-me da expressão freudiana que os americanos gostam muito – anal retentivo – para descrever alguém com tendência para ser literal, que insiste demasiado no mais ínfimo detalhe. E tudo se encaixa.

Café Império


(by Miss Blue)

Sabe qual é a melhor maneira de curar a ressaca de ano novo, Mr Budget?? Sabe qual é o remédio perfeito para aquela vontade compulsiva de comer algo profundamente reconfortante e satisfatório, que não enjoe, que acompanhe bem uma imperial ou uma coca-cola, que permita um sentimento inocentemente culpado de indulgência, que nos ponha logo a quebrar aquela eterna resolução de ser mais saudáveis, de comer melhor, de renegar os maus hábitos? No fundo, Mr Budget, sabe qual é a maneira mais rápida de voltar aos maus caminhos do ano velho sem pensar muito no assunto?

Primeiro, tem de beber bastante na noite anterior, e de preferência fazer algumas misturas entre géneros (por exemplo, beber 2 uísques e 3 vodkas depois do champanhe costuma resultar de forma assaz eficaz). Depois tem de beber água antes de dormir para não ficar completamente incapacitado na manhã posterior. Ao acordar, a sua língua deve ter a textura de cortiça e a ausência de humidade que caracteriza as horas quentes de um qualquer deserto comum. Tome banho, lave os dentes, vista-se e apanhe um táxi – ainda não está em condições para conduzir e tentar ir a pé é arriscado: no estado em que está, ainda o chamam para ilustrar os malefícios da bebida no antigo cinema que nunca viu tantos filmes como desde que se tornou igreja e que fica ao lado do sítio que lhe sugiro: o Império.


Ao chegar, ignore a geriatria de alguns empregados e a curiosidade dos restantes por verem um cliente sozinho com menos de 70 anos: sente-se num banco, encoste-se bem e recuse a lista: a única coisa que quer é um magnífico bife Império da vazia, médio-mal passado, com ovo. O pão chega quente à mesa e as batatas aparecem por magia numa travessa complementar. (Já pediu a coca-cola, espero.) Nos minutos seguintes, a única coisa que tem de fazer é afogar religiosamente e de forma alternada, batatas e pão no molho inacreditável que acompanha este bife. Nos meus sonhos mais loucos, acredito que eles usam caramelo. O tamanho é perfeito, a consistência exacta, as calorias não contam aqui e a sensação que a qualquer momento pode entrar um carro do INEM para socorrer os outros comensais é meramente passageira.


Acabe com um café e vá-se embora, preparado para descer a Almirante Reis devagarinho, com a certeza de que está a ser muito marginal e a começar o ano de forma muito mais alternativa que numa qualquer pizzaria da moda a almoçar às 4 da tarde.

Molha o Pão


(by Miss Blue)

Ninguém diria, Mr. Budget. Pelo nome e pela localização, achei que este este um daqueles restaurantes feitos à medida da sua carteira. Fomos lá parar porque uma amiga conhecia a dona, o que podia correr muito bem ou muito mal – a imparcialidade tende a ficar de fora nestas sugestões. E como a ideia era organizar um jantar de Natal para um grupo médio, a ideia de ir para o meio de Santos, entre hordas de adolescentes consumidores de péssima sangria e a impossibilidade de estacionar, tenho de reconhecer que a burguesa profunda que há em mim se encontrava bastante céptica com toda a combinação.


Mas, como pessoa de palavra, não inventei nenhuma desculpa e fiz-me à estrada, ou melhor, às ruelas de calçada, a pé, com a promessa de petiscos a 3 euros e meio a brilhar ao fundo do beco escuro onde nunca me apanhariam sozinha, por melhor que seja a vizinhança. E assim que cheguei, engoli logo 50% das objecções iniciais. O restaurante, mínimo e acolhedor, estava bem decorado, em “burgundy” que é como se chama ao grená agora e a luz baixa e difusa prometia petiscos deliciosos para partilhar a dois.



(Acrescento aqui uma nota de desculpas para o pobre casal que o tentou fazer de forma inglória, continuamente interrompido por gritos selvagens e afirmações polémicas que são apanágio da maior parte das pessoas que constituía o nosso grupo.)


Éramos 8 que passaram a 11 e  depois de recebermos os deliciosos saquinhos de pão para provar o azeite e o paté, abrimos as hostilidades com ginjinha do Poeta e, entre vários petiscos, saboreámos uns belíssimos ovos com farinheira com a textura perfeita; uns peixinhos da horta que estalavam no limão; morcela com maçã e mel absolutamente divinal; pataniscas que tinham de facto bacalhau; e frango à passarinho com esparregado; sempre em doses muito bem apresentadas e com o tamanho ideal para deixar um bocadinho de espaço para provar a próxima.



As corajosas da mesa ainda aceitaram o repto da proprietária, que as desafiou para umas panquecas de frutos vermelhos que fariam as delicias de qualquer pequeno-almoço (estou aliás muito tentada a voltar lá para petiscar numa sexta à noite e levar uma caixa da tupperware (shiu, cale-se!) para trazer o pequeno-almoço perfeito para o Sábado de manhã. Com uma textura extraordinária e com a acidez os frutos vermelhos a cortar a doçura da massa, acabaram por ser provadas por quase toda a gente, com grande descaramento.


Quanto às sangrias, Mr Budget... dizer que houve quem se juntasse ao grupo mais tarde só para as provar não é nenhuma mentira. Leves, frescas e muito frutadas, deram um óptimo mote ao início e ao fim da refeição. O tinto que se bebeu com os petiscos fica a seu cargo comentar, devido à quantidade de copos que ingeriu. O meu ginger ale estava óptimo e confesso que volto lá seguramente, para molhar tanto o pão, como o bico, assim que me for permitido voltar a consumir álcool de forma irresponsável e sem moderação. É que afinal estamos em Santos e temos de nos comportar de acordo com a situação.

Kaffeehaus


Vou ensinar-lhe um truque, Mr. Budget. Naqueles dias em que o Chiado está cheio de gente a andar devagar; com sol a bater na calçada e a cegar-nos em todas as direcções; com um calor que faz com que um mergulho no Tejo pareça uma boa ideia; fica claro que estamos a precisar de refrescar as ideias e regressar à civilização. E qual é uma das grandes epítomes de urbanismo, frieza e tranquilidade? A Áustria, pois claro. Na impossibilidade de nos dirigirmos imediatamente à Portela para apanhar um avião que nos deixe num raio de 30km da melhor Sachertorte do mundo, podemos sempre atravessar de mansinho a Rua  Anchieta e, mesmo à esquina, sem tocar nenhuma concertina, entrar na Kaffeehaus.

Um pequeno reduto austríaco em Lisboa, onde o ar é fresco, as janelas têm cortinas penduradas a meio, os jornais e as revistas são de livre consulta e a limonada parece mais fresca e amarga que qualquer outra. Se for atendido por um empregado louro com óculos de massa... bingo. Chegou a um estilo de vida mais Monocle e é bom que venha com fome.

Mesmo que não saiba dizer “Frühstück”, “Mittagessen”, “Nachmittagskaffee” ou “Abendessen”, use o seu raciocínio teutónico, dividida os nomes consoante a hora do dia a que estas refeições são tomadas e vai sempre encontrar opções deliciosas. Mas um estreante que se preza sabe que irá ter inúmeras oportunidades de voltar e experimentar as varias delícias tão surpreendentes como impronunciáveis. Gebackener Leberkäse mit Erdäpfel-Mayonesesalat ou Hühnerbrust mit Gorgonzola, Walnüssen & Trauben an Blattsalaten ou mesmo Gemüsestrudel “Steiermark”. Tente pedi-los assim mesmo e observe o olhar complacente de quem o atender. 



Mas se quer o meu conselho, comece com Original Wienerschnitzel mit Erdäpfelsalat. É a forma mais tradicional de se iniciar. Sim, sim, nutricionalmente são meros panados com salada de batata, mas é a forma mais rápida de atravessar 5000 quilómetros à distância que fica entre o garfo e as papilas gustativas. Se fechar os olhos, até vê os Alpes ao longe.
Neste espaço onde as crianças são bem-vindas e podem desenhar nas mesas, onde os pratos do dia e as sopas estão escritas na ardósia, onde tudo é cinza e branco e madeira e tranquilo, vale a pena pedir um copo de Riesling e ficar só a ver o movimento blue a passar.



Depois, toca a provar o que a ementa ou os pratos do dia sugerem (atenção que o hambúrguer é capaz de alimentar duas famílias etíopes), a descansar e a saborear cada garfada que o deixar ligeiramente mais nórdico, substancialmente mais feliz. É essencial guardar espaço para a sobremesa. E é óptimo ir experimentando as sobremesas do dia, sabendo que cada pedaço é incrivelmente parecido com recheio de bombom, sabendo nós que nunca se tratam de doces excessivamente doces, mas sempre com um travo ácido, quase amargo. O melhor é mesmo perder-se na descrição de Apfelstrudel, Sachertorte, Himbeer-Apfel-Tarte mit Mandelhobel, Waldfrüchte-Haselnuss-Streuselkuchen ou Linzer-Schnitte e descobrir com a língua a que sabe cada uma destas sílabas complicadas.



Se preferir lanchar tem tostas e croissants, se optar por picar tem tábuas de queijos e enchidos... se quiser beber só um café, ele vem para a mesa numa bandeja com um copo de água, o que é deliciosamente atencioso.



Sei que não sou imparcial, Mr Budget. Mas prometo que não fui paga para dizer isto. Aliás, nós é que pagamos (e bem, uma média de €20 por refeição) para aproveitar as coisas boas do norte da Europa sem perder a nossa identidade mediterrânica. É por isso que eles têm também uma bela esplanada, ao sol. Se a temperatura interior for demasiado amena para temperamentos latinos.

(os créditos das imagens são do site da Kaffeehaus, porque a minha câmara está uma lástima)

Faz Calor na Antiga Casa Faz Frio

(by Miss Blue)

Faz calor nesta antiga casa, Mr Budget. Principalmente porque o vinho, que vem em jarros do tamanho da sua sede, aquece a alma, as bochechas e até ajuda os pensamentos a fluir melhor.


No meio do Príncipe Real, esse altar ao bom gosto urbano e ao estilo de vida hipster-contemporâneo, fica uma casa com ar de adega: descemos uns degraus do passeio branco que cega quando lhe bate o Sol deste início de Verão e entramos numa semi-cave, fresca, em pedra, escura qb, a dar tempo aos olhos e ao corpo para perceber que ali não se brinca, ali não há salada de rúcula nem pratos de ardósia.

Depois de nos sentarmos nas mesas comuns – que também há privados a evocar conspirações sussurradas ou trocas físicas mais íntimas que mera conversa – vem a lista. Uma série de pratos tipicamente portugueses, tão típicos que quase enganam e parecem para estrangeiros; principalmente ali, naquele sítio tão estrategicamente colocado para parecer very typical. Mas depois não é. Tal como o vinho branco autêntico, que vem do Alentejo profundo com o aroma das planícies e a secura exacta da terra, os pratos vêm em travessas de alumínio, a brilhar com a humidade do calor e a gordura necessária para a sua confecção.

Pedimos febras de porco e filetes de pescada – dificilmente seria de outra nacionalidade, o nosso pedido. Os 3 filetes estavam pesados, envoltos em polme rico e espesso – daquele que já só os profissionais e pessoas com mais de 50 anos conseguem comer sem fazer contas ao número exacto de quilómetros que vão ter de correr para compensar a extravagância. Com arroz clássico e salada de alface e tomate bem temperada, esta comensal passou para o segundo filete em esforço e para o terceiro em enjoo total – mas esta comensal é uma fraquinha armada em gastrónoma. As suas febras eram fininhas e tinham um aspecto estupendo - temperadas com colorau, Mr Budget? Estavam boas? As batatas fritas de verdade que as acompanhavam eram gloriosas e deviam fazer companhia aos filetes, mas esse pedido especial fica para a próxima visita.

Acabámos a refeição a pedir mais copos de vinho branco (que parvoíce, pedir um jarro pequeno porque se tem de trabalhar à tarde; o trabalho é sempre relegado para o seu devido lugar quando visto através de um copo); e uma mousse de chocolate, caseira, também servida em taça de alumínio, pequena, comestível em aproximadamente 6 colheradas, como quando éramos pequenos.

É um prazer vir a esta casa, onde as coisas antigas são trazidas de volta, exactamente para o local onde deviam estar.

Nota Blue para as senhoras: é um restaurante tipicamente masculino. Pelas doses e pelo cheiro, pelas mesas e pelos pratos. O cheiro não se cola ao cabelo, mas fica presente na roupa. Ideal para um almoço prolongado numa sexta-feira em que se tenha pouco que fazer.

Choco chocante

(by Miss Blue)



Mr Budget, para não me chamar snob, vou partilhar um hábito comum que cultivo com prazer: ir almoçar sozinha. Ir almoçar sozinha implica alguma dose de auto-confiança, a companhia necessária do jornal diário e a existência de um restaurante com pratos apelativos o suficiente para fugir ao binómio massas / saladas que normalmente compõe esta refeição.
Assim, seguindo o meu nariz apurado, ouvindo o estômago pedir peixe fresco com direito a esplanada despretensiosa, e sabendo que a carteira só comporta  contas razoáveis, dirigi-me ao Verde Gaio – um restaurante coladinho à praça de Campo de Ourique (agora chamam-se mercados; eu sei) que usa essa mesma localização como argumento máximo de frescura assegurada.
Vestida com cores que honravam o dia de Verão, entrei num reino de gravatas e mangas de camisa que interromperam brevemente a conversação com a minha chegada. Qual entrada em stand de automóveis, sentimos que não é exactamente ali que se espera que estejamos – e muito menos desacompanhadas. O empregado lá me arranjou uma mesa para um, naquela insistência que os senhores das bilheteiras do cinema já aprenderam a perder.
Perante as tabuinhas originais, cada uma transformada em carta de entradas, vinhos e sobremesas, pedi chocos assados sem tinta e saltei os folhados apetitosos que estavam a distribuir – se a ideia é comer peixe grelhado, que atinja a as papilas gustativas com o choque de um meteorito e não saiba a castigo depois de uma orgia de queijo e massa folhada.
Esperei alegremente o tempo que os chocos precisam para se porem apresentáveis, com um olho no jornal e um ouvido na mesa da frente, onde se discutia com veemência a condição de sócio sportinguista: se não se pagam as quotas, continua-se associado, ou é-se banido de uma condição determinada à nascença, por meras questões pecuniárias? A discussão estava a atingir níveis verdadeiramente filosóficos quando a travessa chegou.
E foi um choque, Mr Budget. Dois chocos médios e perfeitos, com o dourado a anunciar dentadas saborosas e algumas batatinhas assadas a compor, mas não muitas, para não distrair do principal. Saboreei o primeiro choco: leve, elástico mas macio, com uma satisfação enorme e apreciando as batatas novas e pequeninas, douradas de azeite para combinar.
Mas o segundo choco foi verdadeiramente chocante, com vestígios de massa branca e cristalizada por dentro, textura mais rija e sabor muito menos impactante, como gostam de dizer na nossa área. Provei um pedaço, agradeci à sorte o facto der poder ter apreciado o primeiro choco sem máculas e pedi um café. As sobremesas tinham excelente aspecto, mas essas é que não se podem pedir sem alguém para partilhar, correndo o risco de começar a almoçar sozinha por obrigação. (Uma das sobremesas famosas da casa é o pastel de nata, que vem quente a acompanhar o café; mas dá a sensação que acabámos de tomar o pequeno-almoço e não ajuda à esquizofrenia contra a qual já se luta diariamente.)
A conta foi pequena, mas de facto uma má impressão apagou todas as boas referencias anteriores. Há que repetir, com companhia, num outro dia, com um outro peixe, e com uma sobremesa tão fresca como o primeiro choco se anunciou.

créditos imagem: wikia

Cervejaria da Esquina

(by Miss Blue)

Eu também tenho dias, Mr Budget. Tenho dias nublados, em que me apetece andar de sapatos rasos; dias sufocantes, em que sonho com a vida ao ar livre; dias plúmbeos, em que só me apetece sentar a uma mesa e pedir uma garrafa sem fundo de coragem líquida. A bem da minha imagem e da minha saúde, tento não lhes ceder.
Mas para os dias salgados, aqueles em que o mar apetece tanto que só uma mudança de carreira como pescadora de caranguejo do alaska parece satisfatória, tenho um truque para me esquivar a uma ida a cervejaria que não acabe a cheirar a fritos, onde não precise de voltar a usar babete e, acima de tudo, onde ninguém insinue através da distribuição sub-reptícia de toalhetes que devo desinfectar as mãos com limão assim que acabo de lanchar. Nesses dias, saio de casa às 19.30, atravesso uma estrada, ando um quarteirão e entro numa esquina. Mais precisamente, na Cervejaria que lá fica.
Mato saudades do mar, não entrando dentro dele, mas aproximando-o com arte de todos os meus sentidos. Começo pela vista, de preferência para o tanque onde lagostas e sapateiras marcam o seu território. 
Segue-se o olfacto, quando um dos muito simpáticos empregados chega à mesa com o pão leve e estaladiço e um enchido em carpaccio que desaparece antes da chegada da primeira imperial. 


Depois é a vez do palato, que refresca com a dita; aquece com o creme de marisco espesso e quase decadente; ou arrefece com o recheio de sapateira da casa – apresentado com a casca a observar a taça, onde o seu eu interior jaz, enriquecido com outros ingredientes deliciosos que só fazem o seu sabor sobressair. 



O tacto é estimulado de seguida, assim que o prego de atum chega à mesa – tenho de lhe pegar, de lhe pôr mostarda, de o fechar, de o trincar e de não o deixar cair ante a explosão de pura delícia e total êxtase marítimo. As batatas fritas que peço sempre à parte também têm um papel importante, com os seus gomos gordos salpicados de sal grosso a encherem os meus dedos de pura indulgência – a sensação de juntar fast food e marisco só nunca é completa porque os sabores são demasiado suaves e sofisticados, mas que sabe a pecado, sabe.

Acabo a refeição com um café e um audível “ahhhhhhh”, quando a maior parte das pessoas sérias e sofisticadas começam a chegar para jantar as suas saladas de rúcula e lavagante; os seus caris de camarão e as suas açordas de gambas. 
É nessa altura que saio, sem ainda ter provado a tarte de leite condensado, porque o meu sexto sentido me garante que depois de dar esse passo, já não há regresso; irei todas as semanas cometer um pecado capital nesta cervejaria que é chique para muitos e uma espécie de território neutro para mim, nunca fazendo lá uma refeição completa, só acalmando a vontade de dar sal, muito mais sal aos dias blue.