As Freiras


Eu sou uma lisboeta de meia-tigela, Mr Budget. Além de nunca ter ido ao Santo António de Alfama, nunca tinha ido às Freiras do Chiado. Torna-se óbvio que não estudei Belas-Artes nem nunca tive a sorte tremenda (e a ruína garantida) de trabalhar nessa zona.
A primeira coisa que interessa saber sobre as Freiras, é que elas não são freiras. São uma Associação Católica Nacional Ao Serviço Da Juventude Feminina. E o que fazem as senhoras desta associação? Segundo o folheto deliciosamente impresso de forma amadora em papel amarelo, acolhem, orientam, acompanham, valorizam, educam, distraem e colaboram raparigas de qualquer credo ou raça, quando deslocada do seu ambiente familiar. Um trabalho altamente necessário e meritório, portanto. Mas, numa perspectiva profundamente egoísta e urbana, o que é que nos interessa que elas fazem, Mr. Budget? Eu não estou deslocada e o Mr Budget não é uma rapariga.
O que elas fazem para nos alegrar é cozinhar, muito e bem, num terceiro andar do nº 1 da Travessa do Ferragial (transversal à Vítor Cordon, bem pertinho do atelier dos Storytaylors). Têm um self-service supremo, com sopas à antiga e saladas de alface sem vinagretes nem balsâmicos, mas antes azeite e vinagre e sal, como no tempo das nossas avós. Têm sempre 2 ou 3 opções de prato (pratos típicos e uma suposta “tarte” mais leve) e o tremendo bom-senso de saber que croquetes (quentes, deliciosos) com arroz SÂO uma boa ideia de almoço. Têm frutas e sobremesas e bolos (claramente feitos por elas) que servem à fatia. Também têm café no fim e se celebrar lá os seus anos, oferecem a refeição e, para grupos grandes, também oferecem o bolo. Têm espírito de cantina da faculdade e a capacidade de encher um prato muito para lá do aceitável. Têm paciência para esquisitices e muita vontade de nos fazer comer bem. Mas acima de tudo, têm provavelmente a melhor vista de Lisboa.

Não estou a exagerar. Basta pensar na vista do terraço do Bairro Alto Hotel, tão admirada por todos e tão bem cobrada nos mojitos e cosmopolitans e imaginá-la mais perto do rio. Parece mentira? Não é: o melhor terraço, com mesas contínuas, cadeiras de plástico e chapéus de sol desfiados com uma vista total e absoluta sobre o Tejo e os telhados de Lisboa até lá chegar.
E tudo isto por €6,50. Num ano em que o espírito blue vai ter cada vez mais de caber no budget, é garantido que estas “Freiras” que não são freiras nos mandam direitinhos para o céu.