Sacuda o pó ao porta-moedas, Mr. Budget. Está na hora de apanhar o 28 até ao Chiado e saltar quase à porta deste Cantinho que está (pouco) escondido nas traseiras do S. Luiz. O Cantinho do Avillez abriu este mês, com a equipa do antigo JA em Santos e com o Chefe que lhe dá nome, que arranja tempo para sair do seu canto e vir até ao nosso. Simpático da parte dele, até porque tudo o que pensou para o jantar foi recebido em animada converseta por 8 mulheres muito dispostas a apreciar talento culinário.
Abrimos com belíssimos cocktails – há vários anotados a giz no quadro de ardósia da entrada, com nomes como Roma, Amori e Paris St Germain, à base de vodka, rum e até gengibre - e couvert: azeitonas pretas com laranja; um mini-“gaspacho” como dip e pão cortado em fatias finíssimas, hiper-crocante e muito delicioso.
Depois, para experimentar os vários sabores, de forma muito pouco sofisticada pedimos todos os petiscos, menos os 2 primeiros e os 3 últimos do menu (camarões impossíveis a comensais alérgicas; mãozinha de vitela impossível a todas; fígados de aves que dividiram as hostes entre “amo” e “odeio”; e creme de santola que não dava jeito para dividir). Os petiscos são mini-versões dos pratos; coincidem as matérias-primas e assim come menos e prova mais. O que trouxe à nossa mesa: Peixinhos da Horta (com direito a repetições porque eram divinais), Empadinhas de Perdiz, Ceviche de Vieiras marinadas em abacate, Conserva de Atum com maionese de pimenta-rosa, Farinheira com Crosta de Broa e Queijo de Nisa no forno. Mr. Budget, tenho uma onomatopeia para si: NHAM! Não provei a farinheira por motivos dietéticos mas, à excepção do queijo de Nisa que não tinha nada de espectacular, estava tudo delicioso. As vieiras foram muito celebradas e eu, com uma particular perdição por atum, deixei-me entusiasmar. Acompanhámos os petiscos com um tinto novo, bem leve e frutado, syrah JA – da casa, à boa maneira portuguesa – e ficámos muito expectantes com a sobremesa.
O que nos leva directamente a outra onomatopeia: DUPLO-NHAM! Eu sei que não é, mas não há como descrever o inacreditável Leite-Creme com Laranja e Baunilha e ainda menos o sensacional Avelã3 (avelã ao cubo), que é um trio de avelãs muito entusiasmante com crocante e mousse e uma outra preparação que, devido aos cocktails e ao syrah, já não consegui determinar. Mr Budget, houve suspiros demasiado audíveis de satisfação e maiores afirmações de que numa próxima visita, o jantar seria a sobremesa. Pedimos também um bolo de chocolate com gelado de framboesa, que seria óptimo se não tivéssemos provado as obras-primas anteriores e assim, como um filho do meio, não recebeu grande atenção.
Notas magníficas para a apresentação nada pretensiosa de todos os pratos – em tachinhos e mini-frigideiras; para os empregados muito prestáveis e convenientemente invisíveis que perceberam que para nos fazer felizes só tinham de nos deixar descansadas; e para as bases de quentes feitas de rolhas de cortiça cortadas na vertical que encantaram a decoradora que há em cada uma de nós. O espaço e a clientela terão de ser avaliados numa próxima visita, porque ficámos na mesa junto ao bar na sala de entrada por ser um grupo grande – o que foi óptimo porque fizemos a festa e falámos alto e espreitámos a cozinha sempre a porta abriu e não incomodámos nem fomos incomodadas por ninguém.
Vale a pena ir e repetir, sem lugar a fumadores, com ar limpo e sem qualquer cheiro a comida, por €27, Mr Budget, vá por mim e apanhe o eléctrico.
