Darwin’s Café

(by Mr. Budget)

Miss Blue, este espaço é a sua cara e isto não é necessariamente bom, mas já lá vamos, uma bofetada de cada vez.

Esta cidade está a pulular de novidades desconhecidas, isto porque há muitas novidades que são apenas velhas velharias que sacudiram o pó, tomaram um duche e bochecharam com elixir da eterna novidade. E é precisamente sobre o desconhecido que este arrazoado quer falar. A 5 de Outubro deste ano instaurou-se junto ao Tejo o Champalimaud Centre for the Unknown. É uma boa notícia por várias razões, mas neste caso porque tem um restaurante, Darwin’s Café de seu nome, que contribui para o processo de reconciliação entre Lisboa e o Tejo. E assim, numa quarta-feira de calor, lá fui almoçar nesta nova espécie.

O centro é imponente sem ser opressor, até porque está dividido em dois blocos que convidam a caminhar até ao Tejo. Escolho o bloco da esquerda, passo à porta do Auditório onde uma funcionária olha para o vácuo e entro no Darwin’s, um espaço de pé direito generoso e com ilustrações científicas de peixes e borboletas por todo o lado. Vou até à esplanada, mas quando chega a minha companhia, acabamos por voltar para a entrada à espera que um senhor de blazer nos sente. Infelizmente os lugares vazios da esplanada estavam todos reservados e sentamo-nos no interior, perto de quem estava perto das grandes janelas. Reserva na esplanada à hora do almoço? Afinal já não estamos propriamente a falar de uma novidade, pensei eu. A carta imita um caderno de campo, muito ao estilo Emílio Braga e lá dentro traz propostas simpáticas, mas caras para esta era FMI.

Os pratos mais baratos são um Brás de legumes assados com pesto de tomate seco a €10,50, a quiche do dia com salada no mesmo valor ou o menu infantil que inclui um hamburguer com ovo, batata frita, sumo e bola de gelado a cavalo, por €10,00. Escolhemos dois risottos, o vegetariano e o de alheira com ovo estrelado, €12,50 e €13,80, respectivamente. O empregado aprendeu que se serve por trás vindo do lado direito, mas falhou a aula que ensina a perguntar quem fica com que prato, tinha 50% de hipóteses de errar e errou. Ao servir-me, uma mancha preta vinha a acompanhar o polegar sobreposto ao prato. Cara Miss Blue, este tipo de entaladela gastronómica nunca tinha experimentado. O meu risotto de alheira trazia um penacho de funcho (Foeniculum vulgare) a dar o toque de verde e o belo do zigoto, redondinho, a quebrar a monotonia cromática. O sabor estava bom, a humidade estava no ponto, mas a alheira estava demasiado anulada. O meu conviva não se queixou do seu risotto e eu não toquei nem no prato nem no assunto.

Ponderámos pedir Fiuza Chardonnay a copo, mas para pagar €4,00 por 3 golos, preferimos pedir a garrafa, por €15,00€. Os couverts com pão, azeitonas e uma paté que não provámos - mas parecia ser de atum - estavam quase no fim quando chegou finalmente a garrafa. Serviram-nos o vinho e levaram a garrafa para uma mesa de apoio, um maneirismo de restaurante fino pouco justificável naquele ambiente.

Foi-nos servida água, dois cafés custaram três euros e a conta veio redonda dentro de um falso livro sobre borboletas: €50,20. Este Darwin’s é a sua cara porque é um espaço muito bem localizado, bem frequentado – o Ricardo Araújo Pereira com a sua família e telemóvel estava à minha frente – e bem decorado, mas ponto.

O serviço é lento, os empregados não são irrepreensíveis e isto não é nada a sua cara. O restaurante foi projectado pela Lanidor que juntou o Darwin’s ao leque dos LA Caffés, de onde trouxe o chef António Runa, homem que pratica cozinha internacional de autor, o que nos dias de hoje não só soa a velharia como não ajuda à evolução das espécies.

Reservar esplanada?