A Taberna Ideal

(by Miss Blue)

Pois Mr. Budget, a auto-promoção descarada tem destas coisas: quando alguém refere o seu produto como “ideal” ou o ainda menos modesto “melhor do mundo”, a tendência para a desconfiança acentua-se e a vontade de experimentar diminui. Afinal a modéstia verdadeira fica bem a toda a gente e a capacidade de adjectivar também. O ideal de uns é o pesadelo dos outros e o meu maior pesadelo é acabar a jantar num sítio cheio de little black dresses quando eu estou de vintage verde comprido. Mas adianto-me. A Taberna Ideal pertence às donas da já aqui revista Petiscaria Ideal e do muito em voga Pharmacia. O principio é honroso e muito economicamente correcto: só comercializam produtos portugueses. Há gasosa e sangria, imperial e bons vinhos. Não há uma caipirinha ou mojito à vista e isso faz com que seja preciso beber mais para chegar ao nível de alcoolemia que nos faz sentir confortáveis. Mas é garantido que chegamos lá. Os pratos são deliciosamente iguais aos que havia no serviço de cozinha em casa das nossas avós, aqueles com ilustrações chinesas e jardins zen orientais. Os copos desirmanados têm autorização de brincar na mesa enquanto se bebe água ou sangria, mas quando chega o vinho, os seus irmãos sérios de pé alto são trazidos para dar um ar mais adulto à mesa. Os empregados são simpáticos quanto baste e sentam-se à nossa mesa para anotar os pedidos, mas ao contrário da Petiscaria, não tentam definir o que vamos comer nem dizem que é pouco.
Na mesa há azeitonas e pão alentejano, queijo tipo Azeitão mais líquido que amanteigado e um quadro de ardósia ao fundo da sala com os petiscos e pratos do dia escritos a giz que proporciona a conversa dos próximos 20 minutos: melhor que um exame oftalmológico, quem lê melhor ou trouxe os óculos dá o mote à indisciplina da mesa e a confusão instala-se. É que entre tibornas, saladas, pratos e petiscos a oferta é estimulante e a escolha difícil. O facto de todas as doses serem para partilhar faz com que o ambiente seja óptimo, há inúmeros grupos de raparigas que bebem mais que comem e que dão um colorido vibrante à sala – o grupo dos little black dresses esteve na primeira hora dos jantares (até às 22.30) – e já devolveu os copos para ir virar outros noutra freguesia.
Por fim lá pedimos. Sabe Mr Budget, a maior parte dos meus jantares são em grupo de amigas ou em clima romântico e isso condiciona sempre os pratos pedidos. Como nesta noite nenhuma de nós tencionava beijar ninguém, pedimos a tiborna de tomate e pesto com o pão alentejano generosamente esfregado com azeite e alho, que voou antes que alguém lhe sentisse o cheiro; os ovos mexidos com alheira estavam tão suaves que não enjoaram ninguém; a salada de verdes e nozes e avelãs que alguém pediu só para não se sentir culpada sabia a balsâmico e operava como contraponto ao delicioso virado de bacalhau (bacalhau enrolado com puré de batata como se fossem migas, divinal); e ao ainda melhor bife do lombo que me pareceu acompanhado com hummus de açafrão. Digo pareceu porque quando chegou à mesa já tinha “provado” as imperiais, a sangria de espumante (demasiado doce, não recomendo) e várias garrafas de D. Ermelinda branco geladíssimo num fervedor que servia de frappé. Considerando que éramos 5 raparigas com o índice de massa corporal total capaz de fazer inveja a uma claque americana - eu contava como duas, vá - já nenhuma de nós sabia exactamente o que estava a provar. Saltámos as sobremesas porque já nenhuma conseguia ler o que quer que fosse na ardósia e bebemos cafés em dose reforçadas, porque apesar das promessas dos simpáticos empregados, nada nem ninguém nos convencia que não era apenas cevada. Mais um ponto para a D. Ermelinda.
Por 20 euros por pessoa, Mr Budget, acho que não tenho absolutamente mais nada a acrescentar.