Pizza Pazza

(by Mr. Budget)

Este é um restaurante perdido no meio de uma aldeia aparentemente extraviada da civilização, na costa oeste algarvia, entre Vila do Bispo e a Carrapateira. A minha primeira tentativa de jantar na pizzaria de Pedralva foi frustrada, talvez pela ausência de reserva e de um Agosto em pleno. Desta vez, Junho e mesa marcada não nos iam deixar ficar mal.

Chegámos às 20h30 e descobrimos que na esplanada, nas duas salas e numas mesas encavalitadas nas escadas, as únicas cadeiras vazias eram as reservadas. Dava a sensação de um restaurante da moda em horário nobre. Logo ali se revelou o carácter mitológico do Pizza Pazza, há vários anos um poiso seguro para surfistas, hippies alemães e autóctones ocasionais. Ficámos na sala do primeiro andar, de frente para uma grande pano na parede com o símbolo de Om. E assim começou o   nosso mantra de uma hora, à espera que as famosas pizas de massa fina viessem meditar para a nossa mesa. Mas, Miss Blue, enquanto visualiza o tempo que passei a comer tremoços demasiado salgados e a beber cervejas para diluir o cloreto de sódio, deixe-me falar-lhe um pouco dos pratos.

A pesquisa pelo menu permitiu que saltasse imediatamente ao estômago que tínhamos mais opções de pizas do que um português tem de beber café. O número de pizas vegetarianas e com base de molho de nata (em vez de tomate) é revelador tanto do público-alvo como da  reinvenção própria de uma trattoria alemã (seja lá o que isso for). Entre a originalidade dos nomes, saltou-me a “Trés Macacos” que permitia escolher três ingredientes diferentes. Acabei por optar por uma das spezialitaten da casa, a piza “Aroma”, com fiambre, funghi e queijo de cabra.

Naquela noite a clientela era constituída na maioria por grupos e mulheres, algumas bastante escanzeladas, muito distantes do típico fã de pizas. A decoração traduzia um ambiente “hippie friendly” com vários pontos de luz a iluminarem de tons de amarelo a informalidade reinante. Existia uma área para as crianças brincarem/desenharem e as janelas de alumínio e os maus mosaicos denunciavam uma construção portuguesa disfarçada por uma fina camada alemã.

A descontracção do espaço só contrastava com a velocidade alucinante com que os empregados (incluindo os donos) corriam de uma lado para o outro na tentativa de minorar o tempo médio de espera de cada uma das 90 pessoas que a casa alberga.
Só quando fomos pagar, à sala principal e cozinha, percebi a origem do reboliço: dois pequenos fornos para tantas bocas é uma combinação impossível sem a colaboração de uma clientela de férias ou com “boa onda”. Talvez este casal de alemães, com experiência ganha em Itália, nunca pensasse que naquele lugar perdido, tivesse (como naquela noite) de tirar o telefone do descanso para evitar mais clientes. De Junho a Setembro, eles correm todas as noites, de terça a domingo, para distribuir as suas famosas pizas, schnell ma non troppo.

Enquanto apreciava os desenhos de crianças que enchiam as paredes observei também como numa das prateleiras da cozinha estava a olhar para mim a metáfora visual do Pizza Pazza: os copos da cerveja Erdinger Weissbrau intervalavam com as típicas garrafas italianas de boca larga, uma forma era o negativo perfeito da outra. Se gosta de harmonia de sabores e culturas, faça já a sua reserva, Miss Blue.