(by Miss Blue)
O que dizer deste bar de outros tempos, Mr Budget?
A decoração não lembra a ninguém, os empregados chamam-se Senhor António e Senhor João e tratam-nos como se lá fôssemos todos os dias, e a cozinha está aberta até às 2 da manhã, o que dá muito jeito quando só se consegue parar de trabalhar pelas 10 ou 11 da noite.
A frequência, essa, é perfeita: não vão lá famílias nem adolescentes, não tem grupos grandes nem casais românticos; em suma, não tem gente chata que só serve para nos afastar dos sítios que frequenta devido aos ruídos emitidos (entre beijos xaroposos e lambidos e crianças birrentas sequiosas de atenção, venha o diabo e escolha). O que há são pequenos grupos heterogéneos de jornalistas e designers; amigas politicamente incorrectas que saboreiam um entrecôte e o acompanham com uma imperial; casais mais velhos; pares, triplas e quadras que variam entre a gravata respeitável, a última colecção da Lanidor e algum arrojo pontual.
Na verdade, é tão fora de moda que nem chega a ser fashionably kitsch; é tão anónimo que vive de quem lá vai e além disso, é um local onde se deve ter cuidado com o que se diz porque a proximidade das mesas e dos seus ocupantes não se compadece com inconfidências.
Fica mesmo ao lado do Jardim da Estrela, tem porta fechada e respectiva campainha para ninguém entrar ao engano; serve as entradas que ninguém gosta - croquetes em bola a ferver; patés e azeitonas completamente insípidos; queijo e chouriço fatiados de qualidade perfeitamente normal - mas que toda a gente come. Os entrecôtes são acompanhados por batatas fritas verdadeiras e esparregado à antiga, os molhos são agradáveis; mas, resumindo, não é pela comida que se lá vai. É pela certeza do que se vai encontrar.
E tudo isso, caro Mr. Budget, paga-se com 20 euros.
O que é que lhe parece?
