Esperança

(by Miss Blue)
Convenhamos, Mr. Budget:
O serviço é simpático – e todos os empregados são bonitos.
O sítio é interessante pela carga histórica – é uma antiga mercearia, tem placas de pedra gravadas - mas esta está ausente da sala interior na qual nos sentámos.
O minimalismo da decoração não é tão minimalista assim, já vimos mais e diferente e melhor.
E quanto ao menu... é curto. Curto de comidas e de vinhos.
Não varia a sua oferta nem apresenta nada de novo.
Não tem nenhum rasgo de génio.
As pizzas são regulares, as massas também.
Os raviolis (o melhor prato da casa, feito com massa fresca e recheios interessantes) pecam por inconstância. Umas vezes são discretos e suaves, nas outras parecem ter vontade de estrangular os restantes elementos que habitam o mesmo prato.
Sobremesas, não provámos.
Não nos pareceram interessantes nem apelativas, pois não?
Então, que nos resta?
Os empregados bonitos, o sítio da moda, a localização perfeita para um jantar tardio ou para um almoço a qualquer hora no fim-de-semana de périplo consumista e, temos de concordar, as bruschettas de entrada com queijo da ilha e cogumelos inidentificáveis.
Convenhamos, Mr. Budget, o parco espírito blue que por aqui se sente, faz-se pagar.
Caro.


(by Mr Budget)

Miss Blue, quase que posso jurar que durante o nosso jantar e por cima das nossas cabeças fomos olhados por uma placa de pedra que nos sussurrava o nome de um produto vendido por atacado noutros tempos. Leguminosas? Arroz? Trigo?
Atirada a primeira pedra, parto para crítica. A primeira vez que passei pelo Esperança era de noite e lá dentro ainda mais. Parecia que uma falha de energia atribuíra ao sinal de saída de emergência o papel solitário de iluminar aqueles comensais, demasiado calmos perante tal imprevisto. Afinal, vim a descobrir, aquele aprendiz de quarto escuro assume orgulhosamente a sua obscuridade e uma vez lá dentro os nossos olhos habituam-se a comer com olhares mais suaves. Será este é o primeiro passo para a moda dos restaurantes às escuras chegarem a Portugal? Será uma versão teste para verificar se os portugueses estão preparados para um novo Dark Restaurant ou Dan les Noir, servidos por empregados cegos ou de óculos de infravermelhos? Por certo, certos empreendedores trarão alguma luz sobre o assunto.
Quanto aos raviolis não deixaram nem grande saudade nem grande mágoa. Falados da comida, posso acrescentar que gostei de rever uma das antigas empregadas do Sushi Lounge do Estado Líquido, bonita, simpática e com aqueles olhos ajaponesados rasgados no clima tropical do Brasil. Foi a primeira empregada que me beijou (enquanto cliente habitual) num restaurante e isso, ao contrário da cozinha do Esperança, não se esquece.